quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Meus pertences

A mim sobrou muito pouca coisa material que lembre tua existência entre as paredes chorosas de agora. Pediste para entregar as últimas roupas, uns enfeites escondidos, bijuterias de toda ordem. Praticidade até na hora dilacerada da partida. As lágrimas amarradas por cordelinhos dourados ou brancos. O que é meu disso tudo? A fotografia secreta em que usas os tais penduricalhos e a blusa com babados que apenas eu gostava, mas que te caía tão bem por que a usavas segura e completa. Esse redobro de memória que tem gosto de estiagem, de evasão. O que é meu dentro do oco da tua pessoa? A respiração, a cócega percorrendo tua pele manhã depois de manhã. Me pertence a tua primeira noite fora de casa. Teu primeiro grilo sobre as potencialidades de teu ventre. Cabe a mim a primeira disfunção agressiva de tua indiferença. Do muito pouco que eu tenho agora, essa imensidão de derivadas e paralelas. Provando em meus espaços que a razão tem de dar o braço a torcer vez por outra. Dando conta de apenas esperar por aumentar o silêncio que ninguém quer escutar. J.M.N.

Nenhum comentário: