quinta-feira, 8 de setembro de 2011

A tudo que não vejo mais e ainda assim, acontece

O mínimo desgosto era catástrofe, andávamos sem plano, uma hora sairíamos da estrada para o além, simplesmente. Uma vez ou outra uma reação espontânea. Um coração e outro coração, apenas rimando os dias sem saber onde começara e onde acabaria a ilusão. De certo, ambos abertos ao estrago do inteiro, da amplidão do sono junto, a mordida bem dada na maçã vermelha. Auroras virando sombras e pão gelado no café. Era tudo muito sinestésico e fruído, acabamento de linha clássica de uma montadora qualquer. Andávamos a gastar o forro da gente, os cinzeiros, a alavanca das janelas. Mas tinha o vento sempre a deslizar-se sobre os cabelos dela iniciando conversas comigo mesmo, das quais eu nem sequer tinha medida, uma luz que fosse. Essas paisagens que sua imagem criava enquanto rodávamos na avenida do sol era a única dúvida que eu tinha quanto ao que esperava das drogas – haveria imagem mais bela dentro daquelas gramas? E então um supetão. Buracos à frente e o destino se encarregou de capotar a entrega e as maneiras tão naturais que tínhamos ao nos impedir a felicidade. Foi num dia de chuva. Fevereiro ou março de um ano curto. Parei para ver como ela estava. Subi em seu corpo pela última vez e descobri aquele vinco em sua costa. Aquele indicador de que as carícias escorreriam rumo aos panos de cama, caso fôssemos adiante. Um beijo apenas. Te vejo mais tarde? Sim, trago as ervas para nosso jantar. Não esquece que temos teatro amanhã. Já havia esquecido e não pude fazer nada mais do que acenar-lhe para sempre, andando sem olhar para trás até chegar às escadas, até vencer a lama da rua. Até chegar um dia em que nada dela constava em minhas culpas. J.M.N.

Trilha sonora possível…

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