segunda-feira, 5 de julho de 2010

O que me é (I)

O texto que estava aqui foi suplantado pela impossibilidade de descrever o que quer que fosse. Nada ficou. Passaram, no entanto, lembranças boas de um moleque calado e só. Que gastava as tardes a estourar os dedos dos pés nas pedras da rua onde jogava bola. As palmas dos pés cortados pelos cacos de vidro. Bom de porrada quando precisava, mas sempre apanhou de mulheres. Primeiro elas usavam cintos e sandálias, depois sofisticaram suas armas e passaram a utilizar a leveza de panos, batons e entregas incondicionais. A inquietude inevitável de vestir-se de silêncio e solidão amainou-se apenas na descoberta do ofício onde esses atributos são indispensáveis. O texto que estava aqui foi escrito com fúria e intenções bélicas. Desertou na primeira risada de Sofia, que, chegando em lufadas rosáceas, espalhou uma substância inominável de consistência nem dura nem líquida, algo entre a alegria e o êxtase. O texto dizia de seios e suas funções na sobrevivência da espécie, ou seja, falava de leite quente e do calor único do cantinho que os seios ladeiam. O texto que estava aqui não podia se revelar, pois misterioso queria o amor dos que o lessem, ou pelo menos refletir os infortúnios da platéia.WDC

Um comentário:

Anônimo disse...

E como refletem meu amigo... como refletem...