domingo, 11 de julho de 2010

Na boca de alguém chamada Lucy

Ela improvisava os beijos, nada sério. Amava como só alguém dependente de algo fora de si ama. Sempre atrasada e urgente, sempre achando que vai morrer no próximo beijo. Com um monte de tristeza e martírio. E roubava minha energia. Vampira, terrível e insegura. E eu passei a gostar. Como ousadamente gostava de tudo que me fosse destrutível. Ela pediu apenas uma coisa: não esqueça de mim, baby. Assim, nesse chavão meio chulo e cheirando a estrangeirismos. Uma junkie qualquer entre Bukowski e John Fante. Seu nome era bem brasileiro, mas preferia ser chamada de Lucy. Compreensível. Uma identidade forjada. E tinha menos anos do que quando eu descobri morrer por detrás da porta das empregadas. Lucy me sufocava e plantava acácias no parapeito sujo de seu apartamento. “Não esqueça de mim, baby” essas palavras ficarão muito dentro de mim ainda. Como o beijo que ela me deu e fez um gosto de orvalho. Pureza contra sua melancólica aparência de morta. Ficarão marcadas as palavras até que eu ache jeito de voltar e dizer que fui feliz. Naqueles míseros momentos em que fui chamado de gente. Lucy nunca aprendeu meu nome e, por isso, me chamou de algo que ela gostava muito. O melhor tipo de amor: instantâneo, sem nome e definitivamente inesquecível. J.M.N.

A trilha sonora perfeita…

Um comentário:

Anônimo disse...

Sensacional esse texto.

Bruno.