quarta-feira, 14 de julho de 2010

Decantação

Uma a uma caem as gotas pela mesa e isso sabe a essência de camomila, tal como ela pôs em minha ilusão momentos antes. Vêm de dentro, bem do fundo e tornam-se límpidas à medida que desprendem de mim. Mais um lugar tranqüilizado no peito. Mais um efeito das coisas sobejamente puras que me encontram como dádivas ultimamente. Falamos de segredos, de irmandade, dos princípios lícitos de proteger o outro de nós mesmos – o amor encontrado na renúncia de um momento em razão de um bem maior. Falamos de padres, confessionários e adoração. E não havia dogmas em nossas palavras, apenas reconhecimento. Pude sossegar de minhas perguntas, das sebes eufóricas que me escaparam no primeiro encontro. Pude admirar-lhe a beleza como a uma poesia. Acontecida bem diante daquelas confissões. Um direito pleno a existir sem sustos e de maneira lista, profunda. E ela arrumou meus ossos e meus tentáculos e me cruzou os braços evitando um abraço indevido. Cobriu-me de brilho, encantamento e me deu um brinde. Foi uma dama até em se mostrar desnuda. O que eu vi doura meus sonhos despertos, limpa o lodo dos meus pântanos e me desperta esperanças antigas. Talvez eu veja o fim de muitas coisas que por agora ainda são apenas dor e saudade. J.M.N.

Um comentário:

Anônimo disse...

Lindo texto Neto. Lindo mesmo.

Maria Rosa