terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Todos os sentidos

Todo amor tem duas versões. A de quem fica e a de quem se vai. A de quem conta e a de quem cala. A de quem suplica e a de quem não se humilha jamais. Todo beijo tem uma ponta de amargo. Nasce do outro, nasce de quem se dá. Pode nascer do fim do desejo, pode crescer no incêndio do ato. Todo sorriso tem tristeza embutida. Poder explodir de nervoso, de cansaço. Pode florescer do abandono ou numa comédia barata. Todo carnaval tem seu fim. Toda mulata cheira pro bem. Todo passista é eterno nos pés. Toda promessa tem juros e mora. Tem passado e perdão consumados. Tem culpa e gozo no não pagar-se. Toda distância tem um logo ali. Pode ser um passo pro nada. Pode ser a corrida para o fim. Quem sabe um erro nos mapas de quem as cumpre? Toda loucura tem sua razão. Assim como toda razão é louca em si. Cabe uma na outra, ressaltam-se, enfim. São gêmeas de sangue quente e ignorantes de sua completude. E toda música tem notas que não lhe pertencem, como em mim tem tanta coisa que deixou de tocar. J.M.N

Um comentário:

Anônimo disse...

Impressionante essas palavras. Fico cada vez mais fã.

Lindíssimo,

Flávia