sábado, 5 de dezembro de 2009

Noah and the Whale – The First Day of Spring

It's the first day of spring
And my life is starting over again
The trees grow, the river flows
And its water will wash away my sins
For I do believe that everyone has one chance
To fuck up their lives
But like a cut down tree, I will rise again
And I'll be bigger and stronger than ever before

Versos são areia. Moldam-se perfeitamente à palma da mão de quem os apanha, mas o tempo suficiente para escorrerem para outra palma, ou para o vento, ou para o fogo. Ainda não sabia disso quando dei esse álbum pra um amigo. À meia luz de seu escritório vi muito claro esse desejo, esse direito de recomeçar o qual todos devemos nos permitir. O mais engraçado é que no disco anterior, essa banda iluminada já cantava, numa cadência ao mesmo tempo despreocupada e feroz, And if there’s any love in me / don’t let it grow / and if there’s any love in me / don’t let it show. Mais uma vez tudo fazia sentido.

Passo, tardiamente, a fazer um rol dos álbuns que mais animaram esse ouvido cansado. Tinha que começar pelo Noah and the whale – que o Neto já havia feito o comentário aqui, inclusive me chamando a atenção para a preguiça que me assaltava.

British Indie folk, esse é rótulo que a Wikipédia coloca neles. É inquestionável que eles são britânicos. Entretanto esse rótulo não nos deixa ver a relação de intimidade com a natureza que, diga-se de passagem, sempre é usada como metáfora de uma tristeza sutil. As letras são povoadas por imagens de rios, passeios, caminhos e estações. Todas essas paisagens parecem nos impregnar pelos olhos, como uma praia vazia sob o sol de julho. Há sofrimento, há solidão, saudade e desencanto, mas tudo sem desespero.

Nesse álbum, talvez até mais que no anterior Peaceful, the World Lays Me Down, os instrumentos e os arranjos são absolutamente servis aos sentimentos. Como os sentimentos são vividos todos sem urgências, o disco é quase todo calmo, com exceção de Love of an Orchestra, opereta na qual um coro dá a exata dimensão das intenções dos versos I'm carrying all the love of an orchestra/gimme the love of an orchestra.

Tudo termina em lições de desprendimento e esperança. De feridas entradas em processo de cicatrização. Ou como diz minha mãe: agora que tirou o carnegão, melhora rapidinho. A redenção vem suave no verdadeiro achado que é a voz de Charlie Fink. Acompanhado apenas de um violão e uma guitarra steel ele canta numa alegria de alívio e liberdade, típica de um sobrevivente:

Yeah I love with my heart and I hold it in my hands,
but you know, my heart’s not yours.

Que assim seja, pra todos nós.

2 comentários:

José Mattos disse...

Tu sabes... (e como sabe) que estes discos, nossas conversas e especialmente este blog são a redenção de desejos compartidos e que se arrumam feito solução para tantos desafetos e insuficiências.
Like two atoms and a molecule inseparably combine...

Sensacional.

J.Mattos

Anônimo disse...

Tava sentindo falta dessas dicas e comentários sobre bandas.

Valeu!

Bruno