It's the first day of spring
And my life is starting over again
The trees grow, the river flows
And its water will wash away my sins
For I do believe that everyone has one chance
To fuck up their lives
But like a cut down tree, I will rise again
And I'll be bigger and stronger than ever before
Versos são areia. Moldam-se perfeitamente à palma da mão de quem os apanha, mas o tempo suficiente para escorrerem para outra palma, ou para o vento, ou para o fogo. Ainda não sabia disso quando dei esse álbum pra um amigo. À meia luz de seu escritório vi muito claro esse desejo, esse direito de recomeçar o qual todos devemos nos permitir. O mais engraçado é que no disco anterior, essa banda iluminada já cantava, numa cadência ao mesmo tempo despreocupada e feroz, And if there’s any love in me / don’t let it grow / and if there’s any love in me / don’t let it show. Mais uma vez tudo fazia sentido.
Passo, tardiamente, a fazer um rol dos álbuns que mais animaram esse ouvido cansado. Tinha que começar pelo Noah and the whale – que o Neto já havia feito o comentário aqui, inclusive me chamando a atenção para a preguiça que me assaltava.
British Indie folk, esse é rótulo que a Wikipédia coloca neles. É inquestionável que eles são britânicos. Entretanto esse rótulo não nos deixa ver a relação de intimidade com a natureza que, diga-se de passagem, sempre é usada como metáfora de uma tristeza sutil. As letras são povoadas por imagens de rios, passeios, caminhos e estações. Todas essas paisagens parecem nos impregnar pelos olhos, como uma praia vazia sob o sol de julho. Há sofrimento, há solidão, saudade e desencanto, mas tudo sem desespero.
Nesse álbum, talvez até mais que no anterior Peaceful, the World Lays Me Down, os instrumentos e os arranjos são absolutamente servis aos sentimentos. Como os sentimentos são vividos todos sem urgências, o disco é quase todo calmo, com exceção de Love of an Orchestra, opereta na qual um coro dá a exata dimensão das intenções dos versos I'm carrying all the love of an orchestra/gimme the love of an orchestra.
Tudo termina em lições de desprendimento e esperança. De feridas entradas em processo de cicatrização. Ou como diz minha mãe: agora que tirou o carnegão, melhora rapidinho. A redenção vem suave no verdadeiro achado que é a voz de Charlie Fink. Acompanhado apenas de um violão e uma guitarra steel ele canta numa alegria de alívio e liberdade, típica de um sobrevivente:
Yeah I love with my heart and I hold it in my hands,
but you know, my heart’s not yours.
Que assim seja, pra todos nós.
2 comentários:
Tu sabes... (e como sabe) que estes discos, nossas conversas e especialmente este blog são a redenção de desejos compartidos e que se arrumam feito solução para tantos desafetos e insuficiências.
Like two atoms and a molecule inseparably combine...
Sensacional.
J.Mattos
Tava sentindo falta dessas dicas e comentários sobre bandas.
Valeu!
Bruno
Postar um comentário