quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Estudos em prosa e sentimentos II

Já gastamos as palavras todas, meu amor. É chegada a hora de amarmos em silêncio. O vento foi um bom amigo, mas levou os rascunhos do livro, as linhas de memória que eu escrevi a teu respeito. Gastamos todos os suspiros e efeitos dramáticos, querida. Gastamos nossos olhares, gastamos a amizade dos outros. Enquanto a lira desses anos se reconhece, nossas distâncias estão postas em cartografias. Sei em que ponto da cidade te devo alcançar, mas nunca tento. Sinto que gastamos toda a possibilidade de nos perdoar, minha amada. Sinto muito. E agora, por isso mesmo, sinto que estamos prontos. Gastamos todos os sumos, todas as desculpas todo o desconhecimento. Não podemos dizer que somos santos, ou alheios um ao outro. Sinto que ninguém mais me entenderá tão no íntimo como tu. E sinto, de fato, que assim o sentes também. Gastamos os dinheiros. Gastamos a fome dos alimentos naturais. Não tenho nada para te dar em verbo, prosa ou rimas e, justamente por isso, agora tenho mais o que te dar. J.M.N

Um comentário:

Anônimo disse...

"Não tenho nada para te dar em verbo, prosa ou rimas e, justamente por isso, agora tenho mais o que te dar."

Isso é simplesmente belo.