quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Enquanto o sol não vem

Lá fora a chuva cai e deflagra aqueles sentidos esquecidos – tranqüilidade e adensamento. Algum conflito, necessário confessar. Sinto o espírito quieto, mas atento e quase posso ouvir a algaravia dos meus porquês. Acompanho as gotas dilacerando-se no caminho à calha da janela. Existe algo de muito próximo nesse movimento. Como uma encenação do que me aconteceu. A água chega tão forte ao vidro e logo se recoloca, perde a força e se torna um filete sem rumo, a cair pelo efeito da gravidade e sumir, algumas vezes, antes mesmo de chegar ao fim. De repente alguém bate à porta. Tenta entrar. A porta está trancada. Levo alguns segundos para entender onde estou. O trabalho me consome (ou seria o vício?). Corro para abrir. A funcionária esquálida me entrega um monte de papéis e diz que estão todos esperando por mim na presidência. Digo que já vou. Ao sentar, encontro coisas rabiscadas no bloco de rascunho. Uma nota me chama atenção: retornar, desfazer a impressão de que deixei de querê-la. É possível escutar o mar em conchas? A chuva continua. Penso na reunião. Risco a nota encontrada e escrevo ao lado: preciso escolher melhor os dias de chuva, de modo que não seja tão triste essa chuva em meu coração. E como se isso fosse um poder meu, saio convicto para o andar de baixo. Ninguém imagina o que se passa entre meus olhos e a existência diminuta de gotas de chuva morrendo na janela. J.M.N

Belém, 23 de dezembro de 2009 - 15:39

2 comentários:

Anônimo disse...

Tens escrito coisas lindas,intensas e bem mais próximo dos sentimentos humanos.
Bons textos,adorei.


Abraços,


Hellem.

Anônimo disse...

Acabo de chegar da rua. Belém, como sempre não oferece muito. Mas lembrei deste espaço. Destas tuas palavras tão sentidas e vivas. Quando li pela primeira vez estava procurando coisas na net para esses momentos de chegar e não conseguir dormir. Que bom que encontrei.

Abs,

Bianca.