Vi Canindé morrendo naquela estrada. De custosa ferida de tiro ele morreu. Era um monstro em vida que desabava tudo ao redor, quando brigava. Um homem sem esmero para consigo e para com os outros homens. Morreu Canindé sem que soubéssemos seu verdadeiro nome. Que bem poderia ser José à semelhança de metade da vila ou Diogo, à unidade do médico que matava os vermes da meninada, antes de sabermos que era impostor. Canindé que tinha nome de cidade era bruto. Homenzinho de pernas curtas e fulminantes para corrida. Braços de tora para as lutas bem de perto e se agarrava, ninguém mais conseguia desfazer o desmaio do agarrado. Aquele homem eu vi morrer. Vi seu negro sangue que é aquele de quando sabemos que a morte cuspiu. Aquele fétido mastigar de destino que sai dos corpos muito usados pela feiura de assassinatos e berros. Canindé esvaiu pela estrada. Sem chuva aquele fim de mundo secou suas tripas em termos de minutos. Eu passava alegre pela pesca do dia, que quando vi aquele diabo formigando a despedida desse mundo me deu algo. Não foi tristeza ou piedade, coisa pior não foi que não senti me comendo a nuca, culpa ou medo de perder a fé. Senti talvez o que sentem todos os homens diante da morte. Um seco longo e pegajoso que faz pensar sobre o que se fez. Canindé me viu inteiro bem perto dele parado. Não pediu desculpas por nada. Falou adeus para alguém olhando meus pés cheios da água do açude. E antes de ir mesmo, perguntou se eu era feliz. Morreu sem ouvir o que eu disse. Morreu como morre todo aquele igual a Canindé, distante da felicidade normal da gente. J.M.N.
3 comentários:
Cara gostei muito desse texto
Arthur
Magnífico seu texto poeta escritor, meus aplausos.
Maurélio, genial tê-lo por aqui meu caro.
Um grande abraço.
J.Mattos
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