sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Depois de viver um século

Não, ela não tem dezessete anos. Tampouco eu a flor daquela idade tenho. Temos na fronte marcas do que fomos e insistimos ainda ser, apesar de tudo. Apesar do que todos dizem que não devemos. E dizem que é sem finalidade ser demais num campo pleno de nadas e antiguidade muito pobre de sentimentos. Apenas a delinquência que surge é sinal de que têm vida aqueles que lá existem. Ainda temos o diamante fino das palavras a embalar finais, para auferi-los da estatística dura que é viver em liberdade. Temos a voz de quem veio antes a preparar caminhos. Não esquecemos quem nos precedeu na tristeza e na alegria, não deixamos de oferecer aos idos o que só podemos viver a partir deles. Não trabalhamos a conquista, mas ela veio. Não formulamos defesas ou as desancamos, mas elas se comprimem a cada hora depois daquele abraço inesperado e intenso. Poetar calado eu aprendi sozinho. Que quando caía uma nova palavra em meus braços, deitava nela a imensidão do que eu sentia e ainda nem tinha anos para sentir – como quando descobri ‘saudade’ e nela deitei minha santíssima falta de um amor que viria. E passei saudade esses anos todos. Menos naqueles momentos em que antes de trocar beijos ou cartas ou anos a dois, tinha aquela presença maciça de algo que ainda viria. Como agora. J.M.N.

Trilha sonora…

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