quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Da vida vogal

Ela me disse adiante, com sua tenra voz de presença. Seguirei esse caminho, como se fosse da malta que apedreja bandeiras por puro romantismo. Seguirei não por que ela me disse, mas porque me fez engolir o que eu já sabia. Sem tempero, sem gosto. Assim, tão somente quando me abriu os olhos naquela manhã. Ela me disse para ir segurar o sol, com minhas próprias mãos muito pequenas, ela disse. Disse-me ainda que a gravidade de minha fuga era coisa de João Ninguém. E que eu tinha outro nome e que tinha mais substância e que cheirava muito melhor que os homens que foram e jamais voltaram. Eu sonhei com aquilo que ela me disse e que me dourou palavras apenas por que entre seus girassóis da boca cuspiu-me a mínima certeza – não sou menos do que seria se acompanhado estivesse. Ela me disse essa nova medida de entendimento dos meus coitos, de denúncias das minhas vagas. Ela, ela, exonerou de uma vez meu passado. Apenas por ter dito que há futuro. Eu escutei. Eu tomei mais um gole do vinho. Sou eu quem diz agora: adiante! Que enquanto as rosas se despedem da chama antiga, tenho a estepe inteira para vencer antes da morte. J.M.N.

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