sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Fábulas da Reconstrução II

“Repare as estradas de saída, como são belas, eu disse.
Elas também são de entrada, caro amigo, disse-me Custódio.
Respondi-lhe assim: depende de por onde chegas meu rapaz!”

O público da obra – Cantídio

E agora verei o que faço com as paredes que construí ao redor. Já não servem. Talvez jamais tenham servido. Nem proteção nem ornamento. Certamente a poeira da demolição alcançará os vizinhos. Protejam os olhos, farei assim mesmo. Esperava que caíssem e me diziam os céus: não caem. A alvenaria fortíssima que as sustentou por tanto tempo servia de impossível. E era fruto de meu labor solitário. A cada suspiro no mundo, um metro a mais de medo e prisão. De forma que alcancei o máximo de minha esperança ainda pequeno. Achei cinzéis antigos no ático à espera dos veios da pedra; causar-lhes lavra; de feri-las, eu tinha intento. Sangrei as paredes e surgi imundo no seu topo. Horizonte estrelar, me maravilha. Calculei bem a quantidade de entulho. As paredes não resistiram como esperava. Eram feitas de alvenaria insegura. Tal como antes, havia muitos anos, eu me coloquei a construí-las palmo a palmo. J.M.N.

Um comentário:

Anônimo disse...

Lindo, icônico, conciso... Cheio de coisas que não vemos por aqui pela internet e talvez nem nos livros de hoje em dia. Tua prosa inpira e dá medo porque parece tão próxima de cada um de nós. sou a terceira geração de amigas que vem aqui. tenho outras curiosidades sobre o autor, mas ainda espero ter chance de te conhece pessoalmente.

Camila