segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Era

E era assim que consumava os atos. À revelia, como quebrando abajures, coisas delicadas. Era assim que pisava em corações por ai, com os pés de quem andou sobre ácido, brasa ardente, sem perceber a morte das pegadas. Era como eu fazia festa, sempre ao extremo, sempre ultimado, acordando sempre em novo abraço, pouca ventura. Era como o último sol de fevereiro, anunciando as águas de março que eu evocava minhas forças para me recolher ao que sentia e extrair disso o máximo de beleza acumulada na dor. Era como a cana cortada que eu passava a vida. O que tiravam de mim alumbrava, entorpecia, pouco a pouco adoçava. Era daquele jeito que eu perdia o controle, sempre em tua companhia, carregando estátuas para modelar teus ambientes. Tua cristaleira que não tinha lugar naquela sala. Era como aqueles cristais que eu tinha ganas de despedaçar em mil lágrimas cortantes sobre tua pele. Era assim que eu chorava em silêncio. Fabricado por dedos e bocas muito ladinos, leiloeiros da esperança alheia, aqueles vampiros. Tedioso lembrar esses restos, esse capítulos. Mas faço para aquecer a memória, para aprender. Era de lá que via um lugar quieto, palavras à vontade. Esperavam crescer de algum jeito aquelas palavras. Estão aqui. Estou dentre elas. Dizendo-as, errando-as, tornando-as as vielas do passado. J.M.N.

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