sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Declarações

Para ela, que saiu por ai tão desesperada.

Eu te amo inocência, com o pé atrás de um garoto com suas petecas no bolso, com a esperteza de quem roubou o primeiro beijo na chuva. Eu te amo saudade, com a competência de escrever de comprido tuas palavras, de fazer mais barulho do que antes apenas para não morrer de tédio. Eu te amo loucura, com a mesma firmeza com que amo a pintura de Goya ou as letras de Trotsky; te amo com o mesmo desprendimento de receber uma moeda como esmola, depois de ter perdido tudo. Eu te amo agonia, com a mesma devoção da tranquilidade, com a mesma dispersão do dourado nos primeiros raios de sol, encobrindo o dia, com minhas minúsculas partículas escapadas. Eu te amo ira, com a segurança de quem recebe no peito uma bala, vestido de colete, apenas com uma câmera na mão; essa maneira de guerrear sem disparos, esperando que teus quadros revelem ao mundo o quanto ele anda doente. Eu os amo, por fim, perdão e foice; o primeiro por ter me cedido seu manto, vestimenta calorosa e fraterna; a segunda por ter chegado tão perto, mas ter rasgado apenas uma ponta do tecido que me cobria. J.M.N.

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