quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Palavras de Ontem Indica

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Se eu fosse pedra gostaria, certamente, que Eduardo Galeano contasse minha história. Ninguém o faria melhor. Pouquíssimos conseguiriam em historietas de breves linhas, dar sentido para existência de um mineral e tecer sobre sua roupa desprovida de encanto, a palavra viva que ecoa sabedorias ancestrais.

Seu livro “Bocas do Tempo” serve para amolecer pedras, para tergiversar a rudez com que o tempo nos imprime marcas, rugas, palavras anoitecidas. Aquelas linhas de suas historietas costurando imensidões da história dos homens às mais circunstanciais vivências dos personagens, fazem o livro ter essa amplidão que apenas o tempo transcorrido ou inventado pode nos dar.

É possível a Galeano, falar de Copérnico, de sua tia, de Caetano Veloso, de uma pessoa que acha um osso enterrado e, ao mesmo tempo estar a falar sobre amor, sobre a infância, sobre a água e sua indispensável existência. Mas não só: a terra-mãe, as Américas dos três descobridores, a palavra, imagens, música, política, diferenças raciais são material para o belo, para o sem fronteiras.

Envolto na mítica transcendência dos personagens, muitas vezes encontrados nas argilas das memórias que insistem em fazer-nos escorregar de volta ao começo de nossos pensamentos, Bocas do Tempo é, sem dúvidas, um livro leve, feito para ler comendo pão e café-com-leite pelos fins de tarde. Feito para ser citado em reuniões com amigos, mas não os literatos ou intelectuais, porém aqueles que sabem o gosto da palavra pedra, da palavra tempo.

Não deixo recomendações, não faço votos de que este seja um livro de cabeceira para quem quer que seja, entretanto, faço questão de dizer que em suas páginas é possível saber-se pedra e água, saber-se passado e futuro, saber-se, mais que tudo, integrante das incríveis armadilhas e portais que o tempo nos abre quer seja de maneira involuntária, quer seja num livro com seu nome no título.

J.M.N.

Um comentário:

Anônimo disse...

Li e recomendo!