terça-feira, 18 de outubro de 2011

Ter e ser todas as coisas (ou “É apenas vida”)

Às vezes dá uma vontade de saltar do trem, correr contra a via estreita e reta que conduz a vida rumo ao fim. Negar que acabaremos um dia. Toda força do corpo empenhada numa corrida arriscada em razão de coisas que a própria razão desencoraja. As redondezas que sequer os breves lampejos de bom senso frequentam. Um agir apetecido e quente que ultrapassa as possibilidades de compreender, atinar, ouvir. Entrementes, os sentidos, de poros amplos, sugam para dentro da gente o mínimo neurotransmissor que venha de nosso objeto. Uma mulher, seu cheiro, seu centro, sua carne rubra a esperar sete dias por nossa volta. Um trabalho, a inveja de si mesmo, aspirações pela eternidade do que se fez e ficará mesmo depois da morte. Um livro, o derrame de lágrimas a cada palavra sentida e vencedora da esgrima com tantas outras, saberes vastos, intuição fremente. Um amor... Isso tudo de antes, comprimido como o núcleo fissurado de um átomo, cuja explosão elimina todas as coisas ao redor, não deixando rastro de si nem de outra coisa qualquer e ainda sim, um espetáculo de brilho, cor e depois silêncio total. J.M.N.

Para ler escutando…

Um comentário:

Anônimo disse...

Lindo.

B.