segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Desmemoria III

Mostrou-me as armas. Estava pronto para matar. Apontou-lhe o rifle bem no meio dos olhos. A primeira vez apenas para testar. O homem com a cabeça quedada ao lado direito, estava preso ali havia dois dias, para não gastar alimento, dizia o sargento. Assim chegou o dia. Todos alinhados. Ele era o mais efusivo dos soldados do pelotão de tiro da 3ª brigada de infantaria. Passou bem próximo ao condenado e sussurrou-lhe algo no ouvido. O pânico tomara conta do sujeito. Prontos em linha ouviram a ordem. O major chefe do pelotão comandava o ato. Quando haviam preparado a mira, o soldado dez apontou o rifle em direção ao Major e atirou duas vezes. O pelotão não sabia o que fazer. Ninguém atirou no soldado dez e ele calmamente se dirigiu ao condenado, desamarrou-lhe as mãos e os pés e disse ao pelotão: nenhum homem merece isso, somos melhores do que esse major de merda. Ninguém jamais escreveu sobre o que ele fez numa clareira erma do interior do país em junho ou julho de 1973. J.M.N.

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