quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Todo dia a insônia me convence que o céu faz tudo ficar infinito*

A todos aqueles que fazem
de suas noites e dias
um único infinito de estados e soluções.

Um dia a gente nasce e chora e parece que o mundo todo cabe em nossos pulmões, sem fronteiras, sem restrições ao ar de fora – escuro de pó e pressa. Ao sentir o primeiro tato completo, que é feito da forma e da fundura, da cor e da textura, temperatura e utilidade, sobe como um suor de trabalho extenuante que é a flor do descobrimento nos arrancando do que antes era apenas repetição das inflexões do outro. Ganha-se razões.

Um dia a gente abre a janela e aquelas tranças tão longas como as cordas do varal laçam a gente. E fica-se desatinado e preso à tortura de quem passe para resgatar o prêmio de dias antes – nosso peito, nossas primeiras insônias, as crônicas escritas em primeira pessoa. Finalmente acontece o cúmulo de sairmos de dentro e passarmos ao outro. Uma oferta irrestrita, de aceite incerto. Ganhamos as possibilidades, escolher é o próximo trabalho.

Um dia a gente não acorda mais. Por que não dorme mais. Por razões e possibilidades que não nos pertencem mais. Que saem de nós aos outros, aceite independente. O suor lavando o rosto de um cansaço espúrio. No tato um odor de tragédia que não se repassa a ninguém, que além do sentir, os pulmões expelem como a um tudo que não se suporta mais. Haverá quem diga chiste, uma tristeza permanente e sem dignidade.

Um dia o sol é o mesmo do dia anterior e o tempo passa definitivamente ao relógio. Nossos descobrimentos deitados nos ponteiros. Uma confusão desatinada entre o que somos, o que fomos, o que temos... O ser reclama um espaço, mas tudo faz parte do mesmo e infinito tempo de antes de estarmos aqui. E desta vez, não há ninguém para fazer força e nos tirar de dentro desse escuro qualquer. J.M.N.

 

*Título dado pelo Angelo Cavalcante, mesmo sem um pedido meu.

5 comentários:

Anônimo disse...

É parece que que todos os insones se encontram mais cedo ou mais tarde não é?

Anônimo disse...

parece que estavas falando sobre as minhas noites ultimamente.

Bruno

Anônimo disse...

Não somos mais...
Tempo para sermos!

Noites com poesia!

Anônimo disse...

Apaixonante.

Anônimo disse...

esse texto é brilhante...

Flavinha