terça-feira, 4 de outubro de 2011

Primitivo

“futurus vacuus unus est sequor ex posterus”

No que pensa minha alegria quando se distende ao vê-la? Consideraria não estar saindo de quem esteja pronto para sorrir demais ou voar demais, ainda? É o que pergunto. É o que resta perguntar quando tudo o que é de dentro toma a palavra e abre-se num brutal espetáculo de incontinência orgânica. Pelos nervos os sinais do estrago, a vibração incontrolável do que se devia destinar a um simples piscar de olhos, a um bocejo ou a uma leve palmada de espantar o frio tranquilo. Todas essas micro energias concentradas e avantajadas por nucléolos perdidos, por uma biologia que envida o gás total. Acontece que cansa. É de tarja preta esse suicídio civilizado e aceito que é viver, trabalhar, ter um provento, sair, divertir-se dentro de caixas ao som destrutivo de altifalantes potentes, consumir pelos olhos, tornar a viver, descer de edifícios e comer de garfo e faca todos os dias.

Queria caçar, ritualizar meus medos, pintar escaravelhos e dominar as histórias do vento. Dormir por sobre a santidade perpétua de uma pedra, num caminho qualquer. Esperar que o dia despenque das alturas e faça poças brilhantes no denso da noite. Queria esse retorno de que todos falam consternados aos grupos pequenos, às mínimas morais dos arredores de nossas casas, do batente da porta a servir de limite entre o infinito e a proteção dos outros. É como querer demais que eu quero essa ideia paleolítica de voltar a ser o que ninguém quer mais ser. Um Cervantes, um Sigmund ou uma Tarsila. Ou ir mais antes e ser um daqueles cujos nomes desconhecemos e que nas pedras deixaram seus traços, suas escrituras. Não quero o útero que esse é muito perto. Não quero gônadas, ácidos nucleicos, uniformidades. Quero aquele antes de tudo que numa sopa mágica que se explodiu em tudo visto e que, na mesma impressionante ação de colocar sobre o nada esse nosso tudo de agora, reservou, inconsequente, esses pequeníssimos espaços dentro da gente, onde quando enfiamos tudo que desejamos é porque tudo nos falta e impõe reservas, ou, injustamente, tornou-se grande demais para ser levado numa lágrima. J.M.N.

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