quinta-feira, 7 de julho de 2011

Mil anos

Para meu avô, José Maria de Abreu Mattos, em seu aniversário.

Vai Zé que a razão já passou correndo, ninguém ficou. Todos dirão que sim, mas não, ela não se deu com nenhum deles. Vai fazer teus trajetos infinitos nas bordas das mesas de lá. Depois da janta te conto mentiras para ficares mais feliz. Mas somente aquelas que não darão razão para duvidares dos homens. Vai Zé, vai reclamar da vida nos balcões de atendimento celeste, onde sábios, profetas e escritores poderão te ouvir até o fim de suas mortes. Trarão, eles, estes teus defeitos e reclamações para dentro das coisas que fazem, pois são muito mais comuns do que te deixaram saber. Vai bancar o senhor de tudo na imensidão da minha memória, Zé. Arquitetando a vida que não tiveste, pois desistida, o sonho que não te coube porque subido rápido demais à admiração alheia. Vai instalar teus reles, filamentos, tuas buchas guardadas, tuas junções acrílicas na obra divina, Zé. Vai ser útil através do tempo, irmão. Vai constar na lista interminável daqueles que descansam na paz dos deuses e descobriram, quem sabe, a marmota de ir e vir entre os mundos. Hoje nascerias se não estivesse morto, Zé. Darias um grito de chegada, não estivesses tão calado no cosmo. Terias o primeiro banho, o primeiro abraço. Não podendo te dar isso, Zé, te dou meu nome, enfim. Aceito a honra de os outros saberem que estiveste por cá através de mim. Quem lembrar de ti, poderá dizer-me: tal e qual. A quem não te conheceu, darei explicações de felicidade, reservas e um bocado daquilo que ainda quero ser. J.M.N.

2 comentários:

Anônimo disse...

belo texto moço...

Isa

Anônimo disse...

Belíssimo mesmo...

Iva