As taças pareciam estar por engano. Postas juntas sobre a mesa de centro. O vinho deitado no fundo de cada uma, a soltar seus anos exilados. Parecia um nostálgico cinema acontecendo no mesmo instante. Em que os dois, avessos, parecia, à cena de antes um pouco, lamentavam as palavras não ditas antes da entrega. Um ato apenas de extensão corpórea. Um segredo que não era para ter acontecido a sério. Houve um clarão. As luzes todas da casa pareciam acesas. Mas estes pirilampos de susto eram os raios flechosos de dentro das suas retinas. Os olhares claudicando entre sentir e crer que fora possível aquele encontro. A cidade naquela época do ano cheirava a avelãs. O cheiro assim repentinamente deixado na memória era um sussurro. Meninos brincando de haverem-se com o novo da pele, com o doce dos beijos. A luz estranha dentro dos olhos, o vinho cênico daquele abraço. Não sabiam como sair porque as pernas desesperadas se laçaram cegas e se perderam. Porque o contorno de suas estruturas corpóreas fundiram seus desenhos isolados numa caricatura de perdição e visgo. Que quando souberam era a manhã seguinte. Que quando saíram de sua unidade despiram-se da paz reintegrada. Que quando viram tinham roubado pequenos rebordos de suas tristezas um do outro. E riram que dentro de suas mãos cabia tão pouco de coisas ruins. E sentiram que podia ter jeito. Que era possível sorrir pelo caminho. J.M.N.
Para ler escutando…
2 comentários:
Wagner e José Neto, comentei (abaixo) sobre o blog de vocês no Programa Matéria Prima, Rádio Cultura. O áudio está disponível em joaoboscomaia.blogspot.com. Continuem com a veia literária aberta. Um abraço!
Eis aqui, caro leitor, uma grande dica pra você se fazer acompanhar do bom da literatura atual. Não falo na literatura nos moldes tradicionais, escrita nas folhas de um papel e com uma capa na frente e outra atrás. Falo dessa modalidade que vem conquistando cada vez mais amantes da leitura por esse mundo afora. Dessa grande descoberta que, além de apresentar novos escritores sem a formalidade quase sempre impiedosa das editoras, se impõe como um veio precioso no chamado mundo virtual. Eu falo aqui dos blogs literários, que pipocam cá e acolá e surpreendem pela qualidade de seu conteúdo. Basta um clic e estamos diante de uma obra, velha, fresca ou reinventada. E aqui é que eu queria chegar pra falar do blog Palavras de ontem, um canto da internet onde essa mesma palavra recebe o trato de dois grandes novos escritores. Cada qual em sua linha, mas sem se distanciarem nos temas e na forma de dizer, talvez aí resida a caminhada conjunta no blog, José Neto e Wagner Caldeira arrebanham as palavras do passado e moldam os poemas do presente, que são suas crônicas e seus contos... Ousados como todo grande escritor, eles se aventuram a descer na arriscada escadaria da alma humana, tanto da deles quanto da nossa. Vale a pena acessar e seguir Palavras de Ontem, dos escritores José Neto e Wagner Caldeira. Até a próxima!
Caro João,
Honradíssimos em receber tamanho aval de um escritor como você. De nossa parte, queremos dizer que o Palavras estará sempre aberto a você e sua obra, assim como já deixamos de pronto, convite para nos ceder uma entrevista sobre a mesma e sobre esses novos rumos da literatura, a qual em blogs e sites abre veredas ao novo, mas também recupera o que já foi feito.
Desde sempre, um braço fraterno.
J.Mattos
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