Quando o poema esquece a janela fechada, horizontes órfãos procuram cavernas. Há um interior, nalgum canto do mundo, que ficará repleto de desistidos destinos, enquanto o poema percorre umbrais envergados, difíceis acessos aos domínios de outrem.
Quando o poema recusa tuas ofertas, pleno de palavras que se encontraram em festas, há que calar pormenores, as dores devem sentar aguardando a volta daquilo que uma felicidade oportunista tomou de assalto. O poema no instante da fuga é o mais omisso dos entes queridos, a mais traiçoeira lembrança de morte.
Quando o poema cala a voz dos destemidos, imprimindo sensatez à estupefata turba de esperanças efêmeras, resfriam-se revoluções, presságios são ventos corriqueiros e assustados que vêm e contam verdades demais para uma só criatura.
O poema quando quer interrompe o fluir das vidas, paralisa a vontade de ser, doma o tempo e cristaliza o peito batendo num único ritmo. Amordaçá-lo não chega. Não chega sequer amarrá-lo ao choro, ao grito.
Quando assim o poema se impõe sobre todas as outras funções corpóreas, há que deixa-lo dizer-se, consumir-se ao extremo da entrega, ao cume de toda sua eloquência. Nenhuma mordaça o impede, pois que ele recupera, fortíssimo, o que foi renegado, o que foi descumprido.
O poema virá. Da ilusão recuada ou de velas soltas, quando o furor interno gritar por ele. Quando todas as dores, toda falência, todo fenecer não forem páreos para a emoção desatada por suas linhas. J.M.N.
Trilha sonora possível…
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