Sua renuncia progressiva se estendeu a mim. A lavoura do que sinto padece, feito as roças de inhame mortas pela seca. Sertão e fome. Sou eu chegando, não mais em outro, não mais além de mim mesmo. Sintetizado em contos e furor e pastagens densas que só me servem a mim de proteína. Ando a comer meu juízo se é que me entendes. Passo além. Tenho outra coisa comigo que é essa desrazão poética que alucinada me dá as rotas. E disperso. Vou e volto como um instinto. Aqui e ali reconhecido e rechaçado, sou um devoto de minha carne, que para muitos parece um ferro quando me cospem, quando me dizem que sou demais, esperando corroer devagar o metal em mim. Minhas infrações já foram todas descobertas e não foram punidas como eu esperava, não. Serviram para monopolizar o bem. A bem dizer foram as lides da liberdade que se seguiu. Todos rogam que eu não faça mais nenhum movimento. Que não saia de mim nenhum distúrbio enquanto estiverem por perto. Finalmente, seu medo não é de mim, mas do que aguentei. Do que me jogaram pelas janelas enquanto eu passava preso, algemado. Ao ver que sai daquilo sem ser de suas faltas o defunto, eles entenderam. Eu não sou eu, nem tampouco deles. Não sou nenhum. Sou um outro que lhes embrulha a vida. O outro apenas que continua aqui, a gritar passagem, a confessar e pagar pelos que nada fizeram além de viver sorrindo. J.M.N.
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