segunda-feira, 1 de março de 2010

Continuidades

A idade da noite é meu infinito. Sou de acordo com esta medida interminável de acontecimentos. E por me dar tanto e tão de dentro é que me interrompo, nos outros. Que apenas acham dias e noites no passar dos ponteiros. Morro sempre. E como volto só o corpo sabe. Só o condão de um funcionamento feito para ser assim. Inviável no tempo dos outros. Indisponível para os segundos regulares do trânsito dos dias. Especialmente noutros sentidos é que me esquivo do esquecimento modesto de quem se acha pelos calendários. Os dias caem da parede, escritos nas folhinhas. E as demais pessoas têm o luxo de apagar-se dia-a-dia. Ou de contar seu esquecimento no vencer dos meses. Eu que não posso recorrer aos expedientes científicos, incorro múltiplo nas existências que me guardam. Nas quais me detive por gosto ou descuido. E venço portas fechadas e acontecimentos de briga. Venço os portos ficando minúsculos dos navios em que se parte. Venço a cor das iluminuras das páginas eleitas dos diários. E fico. E sou. Incerto, mas presente que nem o ar. E me respiro e me comovo com o respirar dos outros. Sou meu tempo de descobrir limites. Sou minha própria ilusão de novidade. Um tanto frouxo, um ser de ontem. Falando coisas que couberam no teu passado, como cabem perfeitamente no teu futuro. Ou no nosso? J.M.N.

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