sábado, 6 de março de 2010

Contos da paixão corpórea I

- Olhe doutor, eu lhe juro por essa perna esquecida que é a única lembrança da época que morri pela metade: comida cozinhada em fogão de gente que não lhe quer bem ofende o intestino.

- E qual o remédio?

- O senhor pega a banha da sucuri mistura com a banha da cascavel, pinga no café todas manhãs da época de chuva. É tiro e queda.

- E onde eu consigo a banha dessas cobras?

- O senhor mata a cobra e tira a banha. Se o senhor não tiver prática na caça de cobras, pode usar o chá do boldo, mas eu lhe aviso que o boldo faz bem pro intestino porém pode causar paumolescência... Aí é a gente que decide o que é mais importante, né?

Então seu Otoniel Sacramento soltou uma gargalhada. Um dente de ouro, outros ausentes. Aquele sorriso tinha a envergadura de um livro de histórias.

WDC

Um comentário:

José Mattos disse...

A melhor coisa de a realidade ser tão absurda é que podemos contá-la nestas linhas e talvez jamais acreditem nela.
Como, às vezes, nem mesmo nós acreditamos em nossas linhas.

J.Mattos