domingo, 21 de março de 2010

150 mg de verdades

Eu poderia inventar teu nome, mas isso não é mais possível. Poderia dizer que foi um engano, uma infantilidade, dinâmica irregular desse meu funcionamento desde sempre auspicioso e vagabundo, mas querida, eu estaria mentindo. Eu podia tricotar um pulôver para o teu frio permanente e te emprestar as velhas meias de lã que tanto gostas, apenas para ter o prazer de dizer que fui eu quem convenceu teu frio a sumir por uns momentos, mas já não posso. Faço coisas que ainda duvido sejam humanas e ainda acho que é incapacidade minha deitar sozinho e dormir menos que a noite do mundo inteiro. De maneira regrada, agora, satisfaço minha recaptação de serotonina que andava pegando aos trancos ou desviando-se dos caminhos o que fez eu te dizer muitas vezes que te amava com meu baço, com meu pâncreas ou estruturas moleculares sequer descobertas. Poderia escalar teus muros, superar tua janela sempre aberta e te encontrar com alguém, apenas para aplacar meus designos de agora. Mas me concedo esse momento de confissão descarada, onde flerto com destinos e enredo bem ao lado do descolorir de minhas retinas. Talvez eu tenha que ficar para sempre nesta dimensão assertiva e calma que me diz: o mundo não é tão ruim assim. Quem sabe eu desespere e lute até a morte contra a tirania de minha sanidade e volte a revelar quem sou pelos gritos dementes de amar-te mais do que eu poderia amar. E em lugar de minha cíclica alegria em drágeas, possa novamente surgir a tristeza complicadora do que faz falta, a nostalgia infinita que me compunha e eu possa sentir mais uma vez, o ritmo de teu peito vivo, pedindo depois de uma dura troca de metáforas: fica, fica, fica, fica... J.M.N.

2 comentários:

Anônimo disse...

Saudade
Saudade é um pouco como fome.
Só passa quando se come a presença.
Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco:quer-se absorver a outra pessoa toda.
Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.

Clarice Lispector, in "A descoberta do mundo".

Anônimo disse...

muito forte isso...