sábado, 13 de março de 2010

Brasstronaut - Mt. Chimarea

Tento fazer uma resenha no mesmo momento que ouço pela primeira vez o álbum resenhado. Por que faço isso? A banda Brasstronaut lançou um EP no ano passado que conseguiu me deixar realmente ansioso por esse LP cujas notas saem dos meus fones neste exato momento. Também porque adoro o som do trompete. O trompete produz notas nuas, sinceras. Não há como disfarçar um solo ruim se ele vem do trompete. Talvez eu esteja buscando isso neste exato momento, essa simplicidade desconcertante. O Neto tinha ouvido também o EP ano passado e tinha me mandado um SMS descrevendo o som da banda como um “sapato velho”, querendo dizer com isso que era um som que passava o conforto das coisas conhecidas. Concordo com ele no momento que acaba a primeira música, Hand Behind. Ouvir o Brasstronaut nos leva a prazeres fugazes. Tardes de chuva com amores de ocasião. Reuniões não programadas com velhos conhecidos. Pilequinhos. Os bares roqueiros de uma Belém distante. A segunda faixa, Heart Trompet, tem o trompete onipresente, acompanhado de cordas e piano, além do aparato sem o qual não se faz rock: bateria, baixo... Faltou a guitarra? Eles não usam. Como o Morphine, O Brasstronaut corajosamente dispensou o instrumento que por décadas simbolizou o rock. No lugar da distorção está o trompete. Ele sola, faz os riffs e tudo mais. A terceira música chama-se Insects. A sequência vai enlaçando a atenção aos poucos, sem tropeços. Sem perceber, já estou em outra posição na cadeira, relaxado, entregue, abandonado. Vontade de sentar em frente a uma janela, olhar as pessoas em suas melhores roupas fazendo o que se faz numa noite de sábado, fugir da solidão, procurar novos amores, entregar-se à necessidade de pertencer a outro ser humano. Lo Hi Hopes, a quarta faixa, mostra um lado rock’n’roll, guitarras imprevistas, mas em total harmonia com as músicas já ouvidas. Bom saber que o Brasstronaut não se prende a fórmulas, não se perde em radicalismos. Se antes me dispunha a observar as pessoas em busca, agora me dá vontade de acompanhá-las nessa procura quase sempre inglória, mas que não conseguimos viver sem. Ravan, a quinta, tem sussurros, vozes sobrepostas, conversas cantadas. Algo adorável também, e que só agora tô notando, é o uso do baixo acústico. Não consigo ouvir esse instrumento sem lembrar do escritor José Roberto Agualusa e sua teoria de que o baixo acústico é um instrumento para náufragos, pois podemos navegar dentro de um e depois fazer de fogueira. Chega o balanço esperto de Same Same, a sexta, e nesse momento já me certifiquei de que minhas expectativas foram superadas. É a melhor coisa que ouvi nesse ano. Sei que o ano ainda está começando, que muitas coisas foram e serão lançadas e que faltam ainda duas músicas, Six Toes e Slow Knots, mas sabe quando você olha pra alguém e entende que esse alguém tem algo essencial? Que qualquer defeito será pouco perto desse mistério não decifrado e que você, a partir de agora, irremediavelmente deseja? Pois é...

PS. Six Toes e Slow Knots são maravilhosas. WDC

 

Um comentário:

Anônimo disse...

Ei cra, põe a capa do disco como fazias antes...