segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

O primeiro dia

Havia uma carta na soleira da porta. Sem destinatário ela vinha de todos os cantos da Terra. Trazia o calor dos desertos, o verde das florestas, o frio das calotas polares. Era uma carta esclarecedora e cheia de nostalgia em suas brevíssimas sentenças. Trazia a contenção do destino em palavras, a sabedoria do tempo em suas vírgulas e mais a destreza de comunicar uma liberdade iminente dentro de um único jogo de palavras. Os verbos escolhidos em pretéritos pungentes. Carregando em seus ventres a imperfeição do que se viveu, a dor do que se experimentou. Toda a natureza dos passos que vêm acontecendo nos terrenos desconhecidos de agora. Uma década de flores específicas. O primeiro dia do ano entrou em minha casa assentado nas palavras infinitas daquela carta. Chegou de um passado recente e longínquo ao mesmo tempo. Chegou trazendo nuvens claras e saudades, mas também o conhecimento tardio de tantas coisas. Aquela carta trouxe exceção à tristeza, fez nascer o ano de maneira mais tranquila. J.M.N.

Belém, 01.01.2011

Um comentário:

Isoldinha disse...

"Uma carta que trouxe exceção à tristeza" era o que eu mais precisava agora. Mas daquelas táteis, físicas..daquelas que quase descontroem a gente, para se reconstruir de novo e de novo...e sempre, porque ela estará ali, à mão para ser lida e relida.