De um lado do sono ele canta luas azuis e universos além da cama, uma eternidade de conquistas ao lado dela. Ela, em sua vela ensinada pelo tempo, rufa tambores na expectativa do salto. Adiante dos olhos de ambos, um horizonte e um abismo, dois marcos de salvação. Não são os mesmos de anos antes. Olhares não aglutinados. O ar que emana dele tem aroma de pertencimento, fulgurância faminta de pedras fincadas na pele da terra, na pele de seus erros e insconstâncias. Ela viceja argumentos de entidade, faz-se leve, não guarda sobras e come o vento aberto das campinas, como a esperança em si sobre pernas e músculos procurando ter-se. Cabe dizer que soluçam ainda. Que passeiam juntos. Que, quando acordados, culminam-se esperando os telefonemas, as mensagens, as brigas normais, as lembranças e um tempo plácido, porém distante. O sono, entrementes, ferido. Mesmo na presença de sua conquistada tranquilidade ele resvala. A mobilidade inconteste de seus poemas e frases se junta em felizes cenas, porém não basta e ele entende que o sono é a perfeição desfeita de seu passado. Tem medo apenas de morrer sozinho, ignorado ou esquecido por quem um dia precisou dele mais que tudo. Ela está, contudo liberta, apenas não sabe. Deixou os grilhões no alpendre quando a noite chamou seus olhos ao escuro revelador da manutenção do óbvio. Quer ilusões. Cercanias coloridas e sandálias muito macias para seus passos. Ela sonha como se estivesse acordada e a dor de cabeça que sente desde que acorda é a paisagem do que ela já conquistou por dentro, fazendo força para cobrir seu dia. J.M.N.
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