Para E.S.T, em seu lugar no paraiso.
Havia pedido um casal de girafas como presente de aniversário. Detalhou que as queria com mais pintas marrons do que amarelas. Também pediu, para formar o conjunto perfeito com as girafas, agulha e linha para fazer-lhes uma manta.
Era um menino taciturno e criativo, que raramente apanhava sol. Seu internamento na casa de repouso Iduañez Cortéz, aconteceu no dia trinta de setembro, há vinte e cinco anos. Sua primeira observação foi um nome estrangeiro para seu novo lar. Onde andam os loucos deste país?, pensou.
Todo domingo, Dona Tota leva-lhe revistas e as novidades do mundo. Ainda hoje pede perdão ao filho por aquele ato impensado. Ele apenas ri e se diverte com as figuras das revistas. No fim da visita regala Dona Tota com um longo abraço e diz fininho, a mãe é a melhor do mundo. É como um tiro. Porém Dona Tota o recebe como parte da pena que se auto impingiu.
No último domingo, Dona Tota chegou como de costume às oito. Veio o enfermeiro e depois o médico. Explicaram-lhe que o estado de seu filho se agravara. Como razão para o que acontecera, ou parte disso, o médico disse que ele voltou com uma fixação que havia abandonado havia anos. Pediu as tais girafas de aniversário, junto com a agulha e com a linha. Porém ninguém percebeu que tudo tinha uma explicação.
Ele queria que as girafas contassem para ele como era o quintal da casa de repouso, o qual nunca via, pois a janela do quarto era alta demais para alcançar, mesmo na ponta dos pés, sobre a cama. O quintal era o reino dos piores, haviam-lhe dito. Como ser pior em um quintal? A agulha e a linha eram para refazer o lençol em cachecol, para as noites de frio em que seu colega de quarto não lhe deixava dormir.
Dona Tota apertou o coração e teve um breve descanso para sua culpa. Seu filho, porém, não precisaria mais de girafas para ver o quintal atrás da casa de repouso. J.M.N.
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