sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Dona Empregada

Tá vendo essa? Ensinei a ser mulher, dizia Patrão Cirino apontando para a Nonata, filha da Ceiça da farmárcia. Getulinho que bebia uma cerveja ao lado do velho, só sacudia a cabeça, hum hum. Toda manhã de sábado era isso, uma lista interminável de amores inaugurais do Patrão. Seu Dito, dono do bar, ria com o canto da boca e não dizia nada.

Num sábado destes, ouvindo os exageros de Patrão, para quem a responsabilidade da fuga de Mirtinha, a fantástica filha do Neco da padaria, tinha sido sua. Seu Dito resolveu sentar à mesa. E com seu copo em punho foi apontando: e essa Patrão?, ensinei que a vida é dura pra quem tá em baixo, e essa? Fiquei cinco dias fazendo ela emagrecer... E assim ia.

Lá pelas tantas, passou Dona Empregada, que ganhara esse nome em seus dias áureos no cabaré Monserrat, na Vila Pequena. Servia muitíssimo bem àqueles que bem lhe tratavam. Já tinha oitenta e tantos, andava com duas muletas, porém sempre cheirosa e arrumada. Seu Dito não perdeu a oportunidade. Sabia do que tinha acontecido entre Patrão e Dona Empregada. Disparou apontando o queixo para a dama...

... E essa ai Patrão, qual foi o feito? Patrão, finalmente viu Dona Empregada no balcão tomando sangragalo, mandou para dentro o último gole de cerveja e levantou amassando o boné entre as mãos que já suavam, essa ai me ensinou que eu tinha muito que aprender na vida, e saiu do bar às pressas, rumo ignorado. J.M.N.

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