quinta-feira, 4 de março de 2010

Aos idiotas

Dou adeus aos meus pares de sempre. Aos senhores distintos em seus ternos de casimira e gravatas de seda. Não quero mais sua dignidade infratora, às vezes legislativa. Peço paz aos que lutaram por mim guerras que eu nem presenciei e peço silêncio aos que disseram que aquelas batalhas seriam travadas em memória do que ainda estava por vir. O que deixo deitado nestas palavras de agora é como um rio que abriu lugares impensáveis e que se arrebenta num ponto qualquer do mar. Meu negócio é saber das coisas. É investigar os porões alheios. Chego aos fundamentos dos outros, sem jamais ter chegado aos meus. Isso é um absurdo. Peço licença às mulheres e às agradeço por terem tomado parte de mim e deixado tão fundas as suas essências que em meus desatinos e sonos profundos, habitam-me suas vozes quase como guias imperceptíveis do meu fazer masculino. Aquilo que não nos permitem dizer nas rodas, nas brigas de amor. Peço força aos meus santos. Àqueles quais nunca reconheci. Mas que me foram ofertados por terços dedicadíssimos e por almas muito mais densas que a minha. Se é que existe! Se é que existo! Por insistência, talvez? Não tenho o que contar, pois tudo já vos foi revelado. Peço descanso aos frenéticos, peço silêncio aos falantes. Não vos direi uma palavra mais. Isto vai para os outros. Para quem julguei alhures. Para quem desmenti por achar mais verdadeiras as minhas verdades. Vai para quem acredita e sabe apenas o que necessita, sem elaborar vibriões de ódio ou cancros de desistência. Meus ditos, vão para os que somam. Para o que valem. Para aqueles que me despertaram a inveja de ser oculto, quase invisível e que mesmo assim chegam aos olhos de uma criança. Da minha criança inconclusa. Eu vos oferto minhas sentenças. Ofereço meus rompantes. Minha coragem de não ser de ninguém e de não pedir arrego. Ofereço-lhes o compromisso com a palavra, que esta é a única coisa que há minha neles. Pois o que me devolvem estes a quem chamo de reles é mais imenso que minha pensa inteira. É muito mais decidido e forte que meus anzóis imaginários. Garanto-vos que buscarei aprender com isso e é certo que minhas mãos não se cobrirão de vergonha, pois que com vosso artifício desdobrarei esses tempos sozinhos em que me encontro. Sabendo que, ao saber, é necessário reaprender o que de mais certo se ouviu falar sobre nós. J.M.N.

2 comentários:

Anônimo disse...

Tua escrita é digna de granes escritores. cada dia que entro aqui vejo claramente que tens taratado de coisas cada vez mais íntimas e ao mesmo tempo abrangentes o que dáo oportunidade ao leitor de se ligar aos teus pensamentos e às tuas linhas.

O Palavras de Ontem é uma das melhores coisas que descobri na internet.

Parabéns!

Antônio Marcos (RJ)

José Mattos disse...

Caro Antônio,

O Palavras agradece o comentário e o convida a vir sempre. Dê uma força: divulgue!

Abs,

J.Mattos