quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Mais um escrito

Sabe, o que mais me incomoda é que eu sei. Sei que de intenso e tonto foi-se resvalar num sulco. Sei que os versos eram teus. Cada qual instalado em seu próprio canto de sala. Tudo parou. Tínhamos saído para comprar alguma coisa e visitar pessoas que amávamos em conjunto, mas o tempo se irritou, tornou-se nulo. E quanto mais o tempo se desdobra em esquinas mesmas, retesadas de saudade – assumo que não sei mais lembrar de nós, ou adormecer em outros fatos que não os de tua impaciência. Pergunto se tens coragem para tornar possível um castelo. As roupas estão bem guardadas do esquecimento. Dormem comigo e ainda mentem para os meus sentidos o teu cheiro. Fiz o desenho que pediste. Nossas iniciais entrelaçando-se, mais uma tatuagem. Fiquei de escolher o lugar certo, talvez em tuas pernas, talvez abaixo de tuas ancas. Fiquei de cuidar de tuas dores musculares, mas quando pude, tinhas tantas perguntas e tristezas que desisti. Minha bagagem viaja sem as compras de sobrevivência instituídas por ti e, sinceramente, não vejo razão para voltar e me encontrar sozinho. Parece agora, que me esqueço nas cidades por onde passo, nas novas ruas que conheço e portos e pórticos e aeroportos tornaram-se os mausoléus de meus pequenos pedaços. No fino de minha escuta, o ruído intenso de tuas últimas palavras de amanhecer – me deixa aqui apenas mais um pouco. É como recobrar-me. É como um pedido, ainda. J.M.N

3 comentários:

ana sofia disse...

adorei...
muito muito lindo



ana sofia

Anônimo disse...

Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário.
Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a.
Se perder um amor, não se perca!
Se o achar, segure-o!

Fernando Pessoa

Anônimo disse...

"Mais do que dizer, é preciso que se faça. Amor é uma construção para sempre" (Anônimo)

Sempre que leio tuas linhas fico encantada. Da delicadez à brutalidade lírica com que colocas os sentimentos mais escondidos em tamanha evidência é desconcertante.
Estão sempre o belo e o violento, acho. Mas nunca perdem o lirismo.
Escreves maravilhosamente bem.

Abs,

Bianca