domingo, 4 de outubro de 2009

J.P. Simões em Belém - Show 1970

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                  Foto J.Mattos

Em Belém acontecem algumas coisas realmente surpreendentes. Vinte e uma hora, dia três de Setembro de dois mil e nove – um dia memorável.

Não havia nenhum plano para o fim-de-semana, muito menos a esperança de que algo de bom aconteceria ou que eu poderia sair de casa e experienciar um reencontro com coisas tão caras e admiráveis de um passado recente e transoceânico, vamos considerar. Mas assim foi.

O teatro Waldemar Henrique estava quase vazio. Vinte e poucas pessoas. Os sortudo(a)s, considero, puderam se deleitar com um pocket-show de J.P Simões. Cantor, compositor e escritor português dos mais qualificados, ex-vocalista da excelente banda Belle Chase Hotel, participante de projetos de peso como Pop Dell'Arte e figura simpaticíssima da estirpe “bizarra” (como ele diz) dos portugueses de ascendência brasileira.

O clima intimista e muitíssimo próximo ao formato show exclusivo imprimiu um ritmo favorável a encantamento recíproco do artista e da platéia. Mais do que empenhado em ser artista, J.P parecia estar feliz por tocar no palco paraense e dedicou o show a Walter Bandeira aquém se referiu como grande entusiasta de sua vinda a Santa Maria. O artista em sua facilidade de comover e mobilizar deixou desde a primeira música uma vontade de que a noite não acabasse.

O show de J.P Simões foi quase completamente baseado em seu mais recente trabalho solo: Boato, cujo formato em música popular, o aproxima dos mais dignos discos da música popular brasileira. Seus arranjos, decerto, escapam ao formato das canções portuguesas tradicionais e namora firme com a bossa nova, com as modas cariocas, sambas canção, dentre outros.

Entre temas bizarros (descritos assim pelo artista) e lírica refinadíssima, J.P Simões proporcionou a pequena, mas legítima platéia, uma hora de enlevo, de singeleza e simpatia, como jamais esperava ter numa noite de sábado chuvosa, num Outubro quase exclusivo de Círio e religiosidade, onde a calçada da Praça da República deu lugar a uma prosa descontraída, feliz e com gosto de retorno ao velho Café Cartola de Coimbra ao restaurante A Brasileira na baixa de Lisboa.

Essencialmente romântico e trágico, flertando com ópera e jazz, o show – apesar de instrumentado apenas por um violão – introduziu certamente nas memórias sensíveis, versos como: Vai minha geração, nasceste cansada, mimada, doente, por tudo e por nada, com medo de ser inventada/ O que é que te falta, agora que não te falta nada?

Ou ainda: Já cruzaste oceanos/ por caprichos de paixão,/ foste deusa, foste bicho,/ viste a festa, a fome, o fundo do país de carnaval,/ tira a máscara dos anos e vem dançar/ só mais um samba, só mais um samba... Estes últimos dedicados à sua mãe.

O momento contou ainda com a excelente participação de Cacau Novais, em dueto na belíssima Se por acaso (me vires por ai), substituindo Luanda Cozetti, magistralmente, se me permitem. Como já não fosse suficientemente bom, J.P. cantou Chico Buarque (A Gota D'Água). A noite não poderia terminar de maneira mais agradável, com memórias, lembranças de encontros bêbados e a oferta do set list autografado, além da promessa de um bom café um dia desses.

Sugiro, pois, que busquem conhecer a obra deste compositor português, de acedência brasileira, em cujas linhas e rimas e notas derrama-se a mais legítima junção de lirismo, verve e talento. Com vocês… J.P.Simões… J.M.N

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