sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Antes de bater à porta...

"O amor bate na porta
o amor bate na aorta,
fui abrir e me constipei."

O Amor bate na porta – Carlos Drumond de Andrade

... é preciso saber se há a disposição para o calmo, para as horas de quietude. A vez de uma paz tão desejada, necessária. Numa altura da vida em que já foram demais as batalhas. Há que saber se as auroras serão a dois, nenhuma chance de se dormir e acordar em ilhas, distâncias cultivadas em passados sozinhos. Há que distribuir mais risos que gritos e desfeitas. De ambos os lados, pontes antes de muros. Se eu não sei, pergunto. Se eu condeno, que saiba ser o que nunca escapa, o que nunca se esquece de se condenar. As intenções dos amantes serão sempre para o amor demais. Há que cuidar desta intenção. Criar mais do que desfazer. Há que se andar em todas as trilhas. Há que se divagar no caminho, duvidar das certezas sobre si e sobre outrem. Escutar os silêncios sabendo que a atenção não acaba, quando as bocas eventualmente não conversam. Há que se invadir a aldeia, cumprir todas as promessas e bater na porta, antes das certezas mais modestas. Antes dos pedidos de eternidade. Há que se saber cúmplice dos assaltos, em todas as tarefas. Antes que os tesouros sejam cobiçados. Antes que apenas o outro seja desfeito, imolado. J.M.N

Nenhum comentário: