domingo, 25 de outubro de 2009

Para os poemas secretos

O antigo poeta de nada serve agora. Nem os versos de lista forma e sonoridade aliciante me podem desgovernar. A troça do tempo é a que mais me causa nojo. Pois quando parece acontecida, revigora e pesa no íntimo da pena, a forma esculpida para se falar de ti, para criar-te. Quando morrer, quero um funeral de pescador. Cabelos ao vento, as garras amarradas em cima do peito dormente, esperando a novidade da aurora para sempre. E na pensa de cadáver, buscarei o cheiro das tuas palavras emprestadas. Essas que agora, em carta, me remetes para dizer coisa qualquer. E certamente pensarei no tempo que tivemos, nos planos que dividimos, na proteção edificante de pouqíssimas noites de cuidado e festa. E lá, nas marés que me esperarão para o passeio infinito, talvez possa compreender a razão de tuas evadidas entregas, de tuas culpas colossais. Rezo para que até o minuto celeste, eu tenha feito suficientes viagens aos segredos de minha concepção, para que meu sono definitivo, esteja repleto dos sabores dos teus sorrisos e não de uma constelação de estrelas extintas, cujos brilhos sustentam-se no espaço, mesmo depois do fim de suas vidas. J.M.N

Um comentário:

Anônimo disse...

Nestes dias de solidão,em que a alma chora nada melhor do que ler suas linhas pra ter um pouco de encantamento.
De fazer flutuar,maraviloso!