Escuta que é hora de novidade, eu vou embora. Vou para o arco dos dias, a eterna manhã, aurora boreal pertinho de minha saudade mais intensa. Vou para a porta de trás desse abandono, letra e melodia para cantar quem fomos. Vou para baixo de uma mesa nunca crescer, me dar limites que não puseram em mim Deus ou Orixás. Com todo respeito vou ser benquisto, melhor que todos os escolhidos juntos, serei mais eu. Mais dela, enfim. Com essa boca dizendo as pilhas de coisas boas e coisas más, especulando se a humanidade é apenas parte de cada um e eu não sou daqui. Esse que teme, que forja pactos e chora de saber estar fugindo ao encarar um matrimônio, ao partir para Jacarta sem conexões. Estou fora do jogo, sou um roubado, ausente permanente de afincos, de anos marcados em calendários com bichos ou flores ou outras imbecilidades. Vou deitar perto de Iara, roubar dos homens a razão, deixar-me existir dentro do que escrevo. Sou pleno de esteio pronome, adjuntos, artigos. Palavra nenhuma me desconhece. E vou dizer para todas as tuas estruturas, para as vilosidades em tuas células, sou permanente. Pegajoso. Húmus, se fores floresta, fertilizante se pasto e matilha se carne pura, o que não és. Chega de contar vantagem, chegar de assumir. Teu esconderijo é bem ao lado de minha banca. Vem e joga dados ou cartas ou outros azares. Vem que aqui a vida é apenas uma e nós dois cabemos nela. J.M.N.
Trilha sonora… o sensacional Sérgio Sampaio, interpretado por Jards Macalé
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