quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Vida e morte, amor!

Cândido se encontrava morto e às portas do céu teve a visão que jamais havia tido em vida. Voltou ao corpo que lhe abrigara por mais um minuto e meio, apenas para contar o que vira.

“Era você que emprestava vida a tudo que eu fazia. Minha raiva maior do mundo era quando não estavas ou quando tinhas mais trabalho que amor para me dar. Isso eu pensava. Mas descobri, naquele verão há dez anos, que teu amor era maior que tudo e já não tinha mais raiva do mundo. Apenas aquela sensação de que gastei muito tempo com o cenho franzido e frases brutas vida afora. Sempre que dormias, ficava uma centena de minutos adorando teu sono. Foste e serás sempre a mulher que eu amo.”

E subiu novamente.

Na missa de sétimo dia, Virgínia, a filha, contava para um amigo próximo que o pai, mesmo depois de ser declarado morto pelo médico, voltou para dizer umas coisas. Ela não sabia de quem ele falava. Se de sua mãe, morta havia cinco anos, ou de outra pessoa qualquer.

Virgínia, contudo, soube dizer que o que vira nos olhos de seu pai declarado morto, jamais vira anunciado em nenhum de seus noventa e dois anos de vida. J.M.N.

Um comentário:

Anônimo disse...

MOSTRA-TE IMPECAVELMENTE CONSTRUIDOR DE SENSAÇÕES, DE POSSIBILIDADES IMPOSSÍVEIS.

ACOMODAM-ME BEM OS OLHOS E O CORAÇÃO, TEUS TEXTOS.

BJITOS.

TEREZA