segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Sobre falésias e estrelas cadentes

"we'll shine like stars in the summer night/
we'll shine like stars in the winter light/
one heart, one hope, one love"

U2 - with or without (verso extra on tour, 1987)

Adiantou-se no dia da despedida. Todas as letras do teu adeus conformaram apenas a minoria de tudo o que deveríamos ter dito. Minhas mentiras, mais um terço ou dois e a falta de planos para o natal e o fim de ano, definitivamente, ficam com o restante do percentual.

- amor, a nódoa não sai, é para jogar fora?

- minha vida ou tuas miçangas, mimo?

Não houve resposta.

Ela, certamente, tinha ficado irritada pelas miçangas. E o mimo, arrematou a desgraça. Um apelido não combinado.

Do alto da torre o caminho para o centro parece menor e em qual altura deixávamos nossos orgulhos e dávamos as mãos, não sei. Parece que o tempo habitou demais nossas portas. Não desejo o mal dela. Um pouco de arrependimento para as suas porções de vodka, nada mais. Quem sabe uma culpa ou duas pela manhã, quando os pés não encontram iguais.

Era terminantemente proibido fugir. Aglutinar proteínas alheias. O cérebro tem mistérios que minha mão indecente desencanta. E Jorge Palma me quietando o espírito com versos purinhos que me instruem e coexistem: meu olhar tem razões que o coração não freqüenta. A derradeira expressão de nossos senões.

Lá de fora, o frio meio que dispersa as presenças e a solidão reina solta longe dos baques dos saltos. Os risos vermelhos e de ironia terçã, invadem a monotonia do encontro e tudo degenera em açoites e presentinhos sem sentido. E teve o episódio em que ela me comparou. Disse com todas as letras que eu era igual a ele. Não fosse feito de vermífugos e semiótica, tinha partido para a ignorância. Fechei-me, pura e simplesmente.

Hoje quando abro a janela e vejo o azul oceânico movimentar-se feito um animal indômito sinto que o cumprimento do destino haverá de ser mais adiante. Parado feito as falésias da costa sul. Pobres esculturas do tempo. E diante de mim a sombra de presença dela. Um ser inteiro com peso, identidade e conta bancária a abordar-me os caminhos sem dó nem piedade. Cumpre dizer que espero ainda.

À guisa de pedidos, discorro sobre literatura e versos de Bilac e Pessoa. Nunca fui santo e quase não sonho mais (acordado! diga-se). As estrelas cadentes não servem de nada, quando o pedido não escapa do centro do pulsar coronariano, em meio a detritos, saudade e muitas porções de nostalgia. Elementos recém guardados. Tinha vontade de a convidar para contar meus cabelos brancos e desenhar em suas costas, os mapas de reinos perdidos. Como nós dois, diante de tanto sentir. J.M.N

2 comentários:

Anônimo disse...

Lindo mesmo...
Acho que as vezes sinto exatamente o que descreves nas tuas linhas. ainda bem que tem o blog para falar por mim, sou uma negação em mostrar o que sinto, escrever sobre, então...

Saudades de vir aqui e me banhar com estas Palavras de ontem, de hoje, e espero que de sempre.

Beijos,

Flávia

Anônimo disse...

Dois perdidos?
Isso me lembra coisas muito íntimas. Vês? tuas linhas cabem em muitas histórias por ai.

Bia.