sábado, 3 de outubro de 2009

O longe, a miragem

De manhã tive a impressão de que me seguias na fila do supermercado. Fiquei com um calor estranho do lado esquerdo, que era onde sempre te colocavas para me abrigar nas filas, onde quer que fosse. E lembrei de todas as rotinas, de todos os sons pensados para te fazer acordar - tua companhia era imprescindível. Lembrei daquela noite em que acordei assutada e te pedi companhia, mas estavas tão cansado que apenas disseste que passaria e me oferesseste dormindo teus braços confortáveis. Fiquei ali, medo de sei lá o quê. Rindo por dentro, pois esperava que acordasses, mas nem um pouco aborrecida, entrementes feliz com tua oferta. Como as minhas coisas estão gastas, minhas roupas te passeiam nos cheiros dominicais e as paredes de meu apartamento me expulsam a toda hora. Não me reconheço aqui. Te vi sentado em tua poltrona de estudar, lendo um livro incompreensível e nunca pensei tanto em começar a aprender os truqes de telecinese para te ter no mesmo instante destes devaneios. Liguei uma vez (casa e celular), liguei duas, liguei onze... em todas as ligações interrompidas queria te dizer obrigado, queria te pedir sacrifícios, queria te matar um pouco mais, como se eu pudesse ter tudo de volta em um momento tão curto como o atender do telefone. J.M.N

Um comentário:

Anônimo disse...

Desesperador esse sentimento de não estar só, pois não deixamos de acreditar lá no fundo da alma que nosso desejo será atendido e que o ser que amamos voltará, ou pelo menos está por perto para acompanhar nosos passos.

Fiquei angustiada com estas linhas. Garganta travada e olhos mareados. Escreves como alguém que sente tudo isso intensamente. à flor da pele.

Acho que não dava conta desssa intensidade. Acho que me refugio atrás do trabalho par não tomar contato com coisas tão intimas e intensas.

Ainda bem que tenho tuas linhas.

Beijo,

Flávia.