sábado, 10 de outubro de 2009

Foi tudo num mês distante, quando ainda éramos encontro

Sobre a música foi no mês que vem, Vitor Ramil

Não estavas propriamente só. Desabitada, talvez. Quem sabe não querendo mais entrar e encontrar a mesma arrumação da sala, teus bichos que comiam roupas e ocupavam armários e te arranhavam a pele durante as visitas esparsas. Eu, por minha vez, alterado. Como quando se enuncia uma nova teoria enigmática. Houve trajetos cortados, horas marcadas e encontros na distância de nossas casas. Um compêndio de devoção enunciado em horas multiplicáveis, desenvoltas. Os abraços mais apertados que já tive. Enquanto isso acontecia em minha história, outras euforias iam apagando. Deixando ao longe, a marca da inundação imprópria, cataclismo de deserto, coisa inexplicável. Pedi que te aproximasse. Pedi mil vezes que me emprestasse a certeza dos teus passos. E isso veio. E se foi. Tão instantaneamente que me dediquei aos traços. A uma cartografia imaginária de tua passagem por estas instâncias casuais da saudade menos acessada. E te ocupaste de me emprestar teu deserto, que mesmo sem os nômades de costume, avançava sendo explorado por povos e senhores indômitos. Contudo estes não te encontraram tão facilmente como eu, tão oposta a si que era impossível te reconhecer, pois era esse o mesmo estado que me perfazia. E tudo foi tão difícil e secreto, tão autoral e desconhecido que ainda hoje sento ao caminho de minhas escutas, de minhas certezas e te encontro distinta dos demais, senhora e serva deste destino, praticando os hieróglifos que te desmentem, que enterram tuas palavras como em uma tumba muito antiga, para apenas deixar vestígios (do que és de fato). E neste desfazer-se constante, minha única dor me diz que ainda faremos falta um ao outro, criaremos diálogos longos e improváveis, pois ambos se destinam às capturas e tal como ficaste em mim, sei que ainda não me deixaste partir. J.M.N

Para ler escutando e depois ler aqui...

3 comentários:

ana sofia disse...

lindo... as tuas palavras fazem-me voar.

é bom ler e viajar num dia menos facil.

beijos

ana sofia

Anônimo disse...

Neto,

Sou a Tereza, do grupo de teatro (91-92). Estudava no Nazaré e participei de muitas festas na casa da Cynthia, junto com a Jordana, com a Adriana e com o Marcelo Didi, lembra?
Virei fã do teu blog assim que li as primeiras linhas. Um lirismo impressionante. Muito boas as tuas crônicas.
Peguei teu e-mail com o Artur e quero marcar um encontro com a turma, pois quase perdi contato com todos, mas as lembranças daquele tempo são sempre muito vivas na minha cabeça.

Um beijo grande,

Tereza Melo

Anônimo disse...

Lindo!De uma doçura cativante.

Você escreve linhas maravilhosas!



Bjs,


Hellem