quarta-feira, 22 de julho de 2009

Forria

estrada

"Tive muita dor de não ter nada
Pensando que este mundo é tudo ter
Mas só depois de penar pelas estradas
Beleza na pobreza
é que vim ver."

Xangai - Violêro

 

Danou-se na estrada do sonho. Os pés farrapos arrastando passos e fincando ocasos por debaixo do caminho. A insuficiência dos prados a declarar limites impossíveis de transpor, pois impossíveis eram as coisas desejadas - a ilha de estarem-se em ideais, servindo-se demasiado puros. Com que tipo de coragem alcançou o mar naqueles dias? E houve a cisma de que a morte viria sorrateira e certa como entrelinha, adonando-se da história decorrida até quase não restarem documentos. A pura arte de apagar a vida, através da entrega, da infinita via de mútuas fomes. O que não sacia. Jaz na estrada dissolvida o corpo aludido no poema do recomeço. Onde se quis tanto que o toque moldasse uma quietude inédita que estancasse o sangue que corria havia anos. A estrada fenecida o abandona. E as casas vão ganhando sinonímias: parada, estar, abrigo. Nelas o que cabe é apenas a dor tranquila de não ter mapas, mas alegrias. De comer o pão da manhã e alimentar-se para durar um dia. E apenas mais um. Nunca mais as baionetas empunhadas ou as declarações de armistício. Os dias passam descansados e a cria se liberta, multiplica. Pode escolher amar quieto, sem pressa e imensamente. Como se fizesse isso desde sempre. E mesmo quando o choro fratura o olho e se invade de memória, ele vê seus pés tão caminhados e sinceramente sorri. Livre e incansável. J.M.N

Um comentário:

Marilia disse...

Olá, J.Mattos. Só uma pequena observação, o compositor dessa música não é Xangai, mas sim Elomar.