quarta-feira, 15 de julho de 2009

Inexistências

Já não há escombros, nem verdades de mentira. Já não há dívidas ou mensagens de amor. Não existem pedidos, ou ajudas com os botões do vestido. Sem paletós alinhados. Meus medos e os seus. Não há quase nada para lembrar. Nem os domingos de sol, quando ir passear no parque era apenas mais um motivo para ficarmos aflitos, eu com sua demora e você com meus erros de caminho. Não existem abraços, porque os braços definharam. Não há estrada, porque não existe lugar para chegar. Uma casa ou um muro alto. Nosso coelho pretendido, abandonado. Não existem códigos que resguardem nossos segredos mais obscenos. Não há vertigens. Mãos abanando despedidas e reencontros pelos vidros do aeroporto, nem aquilo das distâncias. Não há malícia. Dor. Cansaço. Não há sequer o espaço dos livros e as reconquistas nervosas depois de uma semana distantes. Por Deus, não há culpas. Não há hóstias. Meus olhos ou os seus - desencontros. Minhas mãos unidas em preces, sequer. Eu era um adito. Você, tampouco se salvava. Não há razão para isto. Vendo bem, não há razão para nada. Por isso eu levanto e amanheço, com essas palavras desenterradas de tão fundo que nem sequer as reconheço. Não há mais nada por trás desses gritos. J.M.N

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