domingo, 20 de abril de 2008

Quatro coisas sobre Armando Toyèz

Ouviu o tiro lá ao longe. Lembrou naquele exato momento que não escrevera o nome dela. Sua história ficaria incompleta. Não teve tempo de reclamar como de costume. O tiro disparado fez parar seu coração. Sangue na parede de trás. O som agudo rasgou a tarde como se fosse o acorde final de uma valsa. Daí a tristeza.

Menos esperada que o fim, fora sua ausência. Não quis viver muito depois disso. Pediu, enfim aos companheiros que se retirassem pois precisava redigir uma carta. Escreveu a noite inteira e a manhã seguinte. Das doze folhas produzidas, soube-se apenas das duas últimas. As mais tristes e sozinhas.

Entrou na cidade como um herói. De fato o era. Um gigante. Havia sido traído. E logo por quem mais amara. Um fiasco sua última tentativa de invasão. Perdeu-se na chuva, fugindo sem rumo depois que soube o que ela fizera à socapa. Levou apenas seu fuzil e um cacho perfumado de cabelo.

Antes de tomar a cidade, olhou para trás e mandou-lhe um beijo. Disse a si mesmo enquanto corria em seu cavalo à batalha, que se vivesse, haveria de pedir-lhe um cacho de seu cabelo. Ainda morro por vós minha senhora, exclamou. Tomou a cidade em minutos. A resistência daqueles homens sucumbiu à certeza de que a teria naquela noite.J.M.N

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