domingo, 20 de abril de 2008

Não cometa a gafe de morrer sem escutar 2

 

Em 1974 Emílio Garrastazu Médici é substituído por Ernesto Geisel na presidência da república. A ditadura estava a mil. Neste mesmo ano, multidões lotavam os estádios e teatros para ver shows quase - ou efetivamente - clandestinos. Eram estudantes, intelectuais, chefes de família e demais pessoas incomodadas com o clima de censura e terror instalado no Brasil.

Assim nasce O importante é que nossa emoção sobreviva, ainda hoje escutado como um grito pela liberdade, encontro de coração e cicatrizes, de Paulo César Pinheiro e sua poesia e Eduardo Gudin com seu violão e mais a belíssima voz de Márcia.

A reunião não poderia ser melhor. As 10 músicas que compõem o primeiro LP são todas geniais, belas, pungentes, soturnas e absolutamente bem executadas, a despeito da precariedade da gravação ao vivo. Tinham mesmo emoção. Foram feitas com coração e gosto pela vida, contando gentilmente com o tempero da repressão, muitas vezes estopim da criatividade desenfreada.

A 5ª faixa traz resíduos, de Carlos Drumond de Andrade e uma música-homenagem com o mesmo título. O disco poderia terminar ai, mas não, traz ainda:

Veneno (Eduardo Gudin - Paulo César Pinheiro)
Consideração (Eduardo Gudin - Paulo César Pinheiro)
Tatuagem (Paulo Gesta - Guilherme de Brito - Nelson Cavaquinho)
Ingênuo (Benedito Lacerda - Pixinguinha - Paulo Cesar Pinheiro)
Marcha-rancho (Eduardo Gudin - Paulo César Pinheiro - Maurício Tapajós)
Justiça (Eduardo Gudin - Paulo César Pinheiro)
Velho casarão (Eduardo Gudin - Paulo César Pinheiro)
Refém da solidão (Baden Powell - Paulo César Pinheiro)
Cautela • Mordaça (Eduardo Gudin-Paulo César Pinheiro)

E aqui, fica o destaque para mordaça, cuja letra encerra a frase-título do disco e abrilhanta a MPB com os belos versos: [...] e a felicidade amordace essa dor secular/ pois tudo no fundo é tão singular/ é resistir ao inexorável/ o coração fica insuperável/ e pode, em vida, imortalizar.

Uma das mais belas realizações da MPB. Modesta opinião. J.M.N

Um comentário:

Rô Andrade disse...

Também gosto muito do Paulo César Pinheiro. Gostei do blog de vocês. Criei um, há pouco tempo, sobre literatura, cinema e outras coisas do gênero.
palavrastravessas.blogspot.com.br