domingo, 28 de setembro de 2008

Espera...

Te espero desde amanhã. Desde que me bastava a poeira infantil das brincadeiras no quintal. Te espero atordoado com os braços retrácteis, aparelhos indispensáveis do agarrar e nunca soltar. Te espero durante a noite arquiinimiga de minhas virtudes, enquanto roubo cárdios-passos de outras bocas, enquanto escrevo imposturas para amores tristes e não usados. Espero que apareças dilacerada, estemporânea, e me roube a solidão crescente, a magnitude do estar sozinho, para que o ermo do costume neutro não se encarregue de mim jamais. Te espero vítrea, deslumbrante, salvadora, na pungência daqueles ritmos que só tu dominas. Esquiva, translúcida e momentânea, a indispensável matéria que me anima. Espero um momento de incontinência fluida em que nem os gritos, nem as grades, nem mesmo a morte possam nos impedir de nós mesmos.

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