quarta-feira, 10 de setembro de 2008

De pai para filho

Chega o acontecimento teve circunstância de euforia. Entrou no carro sem saber o que viria de lá. Na cabeça a frase do pai:  hoje de noite precisamos conversar. Andou com pensamentos e incertezas e fez de conta que seu temor era pelas provas bimestrais. Na matemática fez conta que nem segurava. Nas ciências, água e terra eram suas imbecilidades. No beijo escondido com Helô teve como um gosto de aparecimento e uma imagem se formou diante de si, enquanto a boca abandonava o gosto no ar. Largou a menina na esquina do colégio e correu para sua casa. Comeu lanche feito desmemoriado e sentiu maracujá, no lugar de caju. Quando a noite chegou e o ritual de alimentação acabou-se para o pai, enfim, ele desenvolveu o cacoete de escutar os passos dentro do quarto. A porta se abriu e seu pai mandou entrar. Hoje lembrando disso faz conta de que foi uma eternidade e o prêmio pela espera angustiada parece bem menor do que naquele dia – ganhou a chave de casa… não perde senão nunca mais. Tinha um gosto de purgatório aquela frase. Mal ele sabia que aquela alforria disfarçada seria mesmo sua grande chance de existir. E saiu de lá direto à porta, como se houvesse cruzado aquele limite anteriormente.

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