sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Os palmos restantes (ou “ao bater em sua porta”)

Para ela que ainda teme o que se vem repetindo em silêncio.

Hoje eu me sinto bem. Nenhuma nova ruga em meu rosto marcado. Sua descoberta estancando meu envelhecimento. Eu mal consigo ver o seu rosto, porque não tenho mais que sonhar que vens. Estás. Tão próxima e evitando dar mais que um passo de cada vez. Uma prudência que levei tempos para entender. E admirar. Porque dela eu jamais vou beber. Não. Estou do outro lado. Pronto para os passos finais quando chamares. Sempre atento à tua beleza, da qual dizes ser uma generosidade minha. Que seja então. Que seja um qualitativo que imprimo aos ambientes onde estás. Fazes tudo nesses meus últimos dias ser melhor. Simplesmente por não se dar conta da tua influência terrena em minha carne. Esses pequenos segredos que se endereçam à tua lembrança, ao mero pronunciamento do teu nome. E isso, dizer teu nome, faço quase como haja matéria. Que de tão presente e quieta dentro de mim, és, estás aqui. Como tudo que a loucura irreversível apregoa. Nascendo apenas em minhas sinapses, até que possamos enxergar unidos, a um horizonte, a um destino, a um atalho qualquer para a mansidão desejada. Esquecer os amores difíceis de achar e os mais difíceis ainda de manter. Vou caminhar calmamente até tua casa. Suspirar pelas ruas da vizinhança minhas certezas. Roubar hortênsias para te dar no primeiro encontro. Diante da tua porta, baterei três vezes: uma por tua beleza, uma pelo que temo e outra para te pedir abrigo e dizer que estou pronto. J.M.N.

Para ler escutando…

3 comentários:

Isoldinha disse...

Gostaria de ter esta mansidão que tens para falar/fazer brotar no coração palavras/coisas tão intensas e ternas ao mesmo tempo.
Vou parar de ler o blog aos domingos à noite. Custo a dormir pensando nos textos! (peixes+áries...).
Lindo como sempre!E a trilha, perfeita.Beijo, poeta!

Anônimo disse...

Para que a escrita seja legível,
é preciso dispor os instrumentos,
exercitar a mão, conhecer todos os caracteres.

Mas para começar a dizer alguma coisa que valha a pena, é preciso conhecer todos os sentidos de todos os caracteres, e ter experimentado em si próprio todos esses sentidos, e ter observado no mundo e no transmundo todos os resultados dessas experiências.

Cecília Meireles

Anônimo disse...

"Talvez não vivi em mim mesmo, talvez vivi a vida dos outros.
Do que deixei escrito nestas páginas se desprenderão sempre - como nos arvoredos de outono e como no tempo das vinhas – as folhas amarelas que vão morrere as uvas que reviverão no vinho sagrado.
Minha vida é uma vida feita de todas as vidas: as vidas do poeta."

Pablo Neruda - Confesso que vivi.