sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Pressuposto

Pensei que era para avançar com o riso, com a maneira déspota de arrancar um beijo. Fazia semelhança de estarmos os dois na condição de traidores. Essa foi a deixa. Iniciamos o espetáculo. À meia luz, nenhum lugar ocupado na plateia. As mãos vagarosamente requerendo os palmos de corpo um do outro. Avançamos. Tórridos e sorridentes como facínoras depois de um roubo. Parecia que não havia impedimentos. E de repente um muro. A locomotiva ensandecida da busca pelo infinito impossível terminou. Não eram outros aniquilando nosso jogo, destruindo o tabuleiro. Éramos nós sucumbindo à gula. De barriga cheia tivemos que nos odiar. J.M.N.

3 comentários:

Anônimo disse...

Lembrando Bachelard : é preciso ultrapassar a lógica para viver o que há de grande no pequeno.

Anônimo disse...

Volte-se para si mesmo. Investigue o motivo que o impele a escrever; comprove se ele estende as raízes até o ponto mais profundo do seucoração, confesse a si mesmo se o senhor morreria caso fosse proibido de escrever. Sobretudo isto: pergunte a si mesmo na hora mais silenciosa de sua madrugada: preciso escrever? Desenterre de si mesmo uma resposta profunda. E, se ela for afirmativa, se o senhor for capaz de enfrentar essa pergunta grave com um forte e simples "Preciso", então construa sua vida de acordo com tal necessidade; sua vida tem de se tornar, até na hora mais indiferente e irrelevante, um sinal e um testemunho desse impulso. Então se aproxime da natureza. Procure, como o primeiro homem, dizer o que vê e vivencia e ama e perde (Rilke, Rainer Maria, Cartas a um jovem poeta, 2009).

Anônimo disse...

Poeta: sujeito que costuma comparecer aos próprios desencontros (Manoel de Barros).